Foram-se os dias das patricinhas, dos góticos e neo-hippies. A nova tribo que está tomando conta das ruas das grandes cidades brasileiras são os emos. O nome vem de emotional hardcore, vertente do punk que mescla som pesado com letras românticas. Mas o que distingue os emos não é só a música, e sim as atitudes. Eles têm entre 11 e 24 anos e, nas roupas, são capazes de misturar as botas do punk, o colar de Wilma, a mulher de Fred Flintstone, e uma camiseta com a gatinha Hello Kitty. Não escondem os sentimentos, expressam abertamente suas emoções, preconizam e praticam a tolerância sexual. ‘Os emos têm um estilo de vida compatível com minha sexualidade. São menos preconceituosos’, diz o paulistano Rafael Adami, de 15 anos, que afirma já ter namorado meninos e meninas. ‘Gosto de meninas, mas isso não me impede de achar o estilo de outro cara legal’, diz o gaúcho Douglas Palhares, de 17 anos. ‘Nossa sociedade é discriminadora.’ O gênero emocore nasceu em Washington, na década de 80, para designar bandas que tocavam letras introspectivas, com batida pesada. Hoje, as principais são Good Charlotte, The Used e My Chemical Romance. ‘É uma vertente do hardcore, por sua vez fruto do punk. Mas os punks têm letras políticas, enquanto as composições emos falam do que os adolescentes sentem’, diz Marco Badin, dono da casa noturna Hangar 110. Essa é a chave do sucesso do emocore. Emos são expansivos. Gostam de trocar elogios, abraços e beijos em público. Ainda que não tenham um relacionamento, amigas emos se chamam de ‘maridas’. ‘As pessoas precisam cada vez mais dizer e ouvir um ‘eu te amo’. De nada vale ser o fortão’, diz o jovem emo Rafael. Esse tipo de comportamento tem alarmado muitos pais. ‘Estranhei quando ele começou a pintar os olhos e as unhas’, diz Dalva Bonfim, mãe de Rafael, que afirma ser bissexual. ‘Fiquei deprimida quando ele me contou. Mas, mesmo sem aceitar, respeito a opção dele.’ Também há um enorme preconceito contra a tribo. Não é incomum que os emos sejam insultados ou até agredidos por outros jovens. Na Galeria do Rock, em São Paulo, onde se reúnem às sextas-feiras, são freqüentes arrastões em que a garotada, perplexa, é expulsa do local a tapas por punks mais velhos - supostamente, a inspiração dos emos. ä Os próprios donos das lojas desconfiam da presença infanto-juvenil, dizem que os emos espantam fregueses. Na escola, a discriminação também é forte. Um adolescente emo de um tradicional colégio paulista foi alvo de agressão dentro da escola depois de publicar no Orkut uma foto em que beijava um colega. Teve de sair da escola e hoje está em intercâmbio na Europa. ‘Na rua, tem gente que me chama de sapatão’, diz a emo Laura Battaglia, de 14 anos. Os comentários mais maldosos ficam para os meninos. ‘Já disseram que eu era gay e me chamaram de emocinha’, diz Bruno Tonel, de 17 anos, de São Paulo.Ele diz namorar uma garota emo e afirma não se importar em ter amigos sexualmente flexíveis. Para Regina de Assis, doutora em Educação pela Universidade Columbia, a tolerância é o traço de comportamento que distingue os emos de outros jovens. ‘A atitude dos emos irrita outros jovens porque eles não temem os sentimentos, enquanto a maioria dos adolescentes busca afeto optando pela agressividade’, diz. Há várias comunidades no Orkut dedicadas a atacar os emos. Os nomes de algumas beiram o bizarro, como ‘Hitler também era emo’. Alguns fãs de música emocore afirmam que existem muitos ‘paraguaios’ - gíria usada pela turma para caracterizar aqueles que se fazem passar por emos sem entender nada da cultura. Muitos nem gostam da música, mas adotam as mesmas roupas e acessórios. |
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
biografia from uk
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